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Torcer e ser patriota: elementos distintos

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Torcer e ser patriota: elementos distintos
Torcer e ser patriota: elementos distintos

Nesta semana uma grande polêmica esteve presente no meio futebolístico sobre o clássico Brasil x Argentina. Após André Rizek, apresentador do programa ‘Seleção Sportv’, ter declarado que torcer é um ato subjetivo e alheio ao patriotismo, muitas críticas foram empregadas ao jornalista e ao ato de brasileiros torcerem para um país rival.

O camisa 10 da Seleção Brasileira postou em suas redes sociais com um tom crítico àqueles que, sendo brasileiros, torcem contra o Brasil independente de qual seja o âmbito cultural. Nas palavras do atleta, ele afirma ser “brasileiro com muito orgulho e com muito amor”.

Neymar postagem sobre torcer e ser patriota
Postagem de Neymar em seu Instagram nesta quinta-feira (Fonte: Instagram)

O post do jogador gerou queixas e, como sempre, debates acerca da tema: torcer e pertencer à Seleção Brasileira. A pergunta principal é: qual a relação entre torcer e ser patriota? Para responder a esta pergunta, precisamos analisar o sentido destes dois elementos sociais que movimentam paixões e simbolizam sentimentos radicais na maioria das vezes.

Em Aprendendo a Pensar com a Sociologia, Tim May e Zygmunt Bauman categorizam o patriotismo como sendo um “fenômeno de identificação e pertencimento coletivo presente em um indivíduo que compõe um grupo/sociedade”. Ou seja, ser patriota nos remete a todo e qualquer vínculo a um ou mais grupo(s). Devemos portanto, tomar cuidado quando líderes políticos, figuras públicas e religiosos tentam definir e restringir este conceito segundo seus próprios valores e requisitos de identificação.

O sociólogo Pierre Bourdieu também reflete sobre os perigos do patriotismo quando este, na maioria das vezes, tenta classificar “nós” e os “outros”. Em Sobre a Televisão, Bourdieu coloca como irresponsabilidade dos meios de comunicação toda tentativa de moldar o patriotismo a fim de que ele se torne um fanatismo e passe a segregar grupos, etnias, movimentos sociais e quaisquer elementos que sejam distintos à cultura convencional daquele país.

Mas por que para tantos brasileiros torcer para a Argentina é sinônimo de descaso e desrespeito à nação? Precisamos ter em mente que torcer é sinônimo de apoio, no entanto, apoiar uma causa, time ou nação não se restringe apenas ao ato de “torcer” em determinado esporte.

Não precisamos lembrar que, antes da existência da Seleção Brasileira e até mesmo do esporte mais praticado no mundo, já existia um país na América do Sul chamado Brasil.

A revolta de Neymar e de tantos outros torcedores e amantes da Seleção Brasileira reflete o sentimento de patriotismo justamente pela identificação e assimilação dos mesmos com o pertencimento de ser brasileiro. Ora, poucos são os momentos nos quais somos “unidos” por uma causa. A Seleção Brasileira tem esse poder e rápido vínculo. Mas ela não é exclusiva nisso.

Em tese, todas as nossas ações deveriam ser pautadas por um sentimento coletivo e democrático de pertencimento. Até mesmo o livre arbítrio, de poder escolher e deliberar conforme nossa autonomia e desejo (como prega o artigo 5° da Constituição).

Diante disso, me questiono por que certos atos, como torcer para uma equipe estrangeira, geram tanto ódio e repulsa, quando ações políticas e públicas de corrupção, “rachadinha”, prevaricação e lavagem de dinheiro não são vistas e analisadas da mesma maneira? Tudo bem, talvez eu concorde que esta não é uma tarefa que deva ser cobrada por todos com o mesmo peso de instituições judiciais e governamentais.

Mas por que certas figuras públicas, que detêm enorme poder de influência, não demonstram insatisfação em relação ao atual descaso político mas rapidamente se revoltam se o Enzo de 15 anos de idade quer torcer pro Messi ao invés do Neymar?

Certas contradições ressaltam o quão nosso país é desprovido de manifestantes políticos no meio esportivo. Concordo que há exceções, como é o caso do Richarlisson, mas se o futebol é mais que uma partida de 90 minutos, ele também pode ser palco para mobilizações políticas.

Por fim, considero justa toda forma de torcer para quem bem entender, mas jamais aceitarei que alguém delimite o que é ser patriota, uma vez que o próprio conceito é abrangente por si mesmo. Nenhum jogador ou líder político, social ou religioso tem o direito de privar os direitos de alguém torcer para quem bem entender.

Antes que me perguntem, torço pelo Brasil, mas sou totalmente contrário aos rumos da Seleção Brasileira e da CBF. No futebol, torço pelos atletas e pela comissão técnica do Brasil. Mas no momento, sou contra a instituição da Confederação Brasileira de Futebol e suas atuais diretrizes.

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