O ano de 2020 certamente foi marcante no posicionamento da luta antirracista. Infelizmente, milhares de pessoas são vítimas de injúria racial em todo o mundo. No entanto, podemos dizer que o caso do assassinato de George Floyd, 40 anos, foi o estopim para que o movimento Black Lives Matter fosse reverberado mundialmente.
A indignação coletiva se fez presente dentro e fora das quadras, gramados, ringues e pistas. Mais uma vez, o esporte mostrou ser um importante instrumento de mobilização social através das manifestações de figuras públicas que nele atuam.
O piloto Lewis Hamilton, ícone histórico da F1, fez questão de se posicionar diante da questão racial através de pronunciamentos e camisetas de apoio às vítimas.
“Eu tenho uma plataforma e penso que seria irresponsabilidade minha não utilizá-la para educar as pessoas, me educar e transferir essa oportunidade de posicionamento para as marcas que me patrocinam” – Lewis Hamilton em entrevista ao portal The Race.
O astro dos Los Angeles Lakers, LeBron James, também declarou apoio ao movimento Black Lives Matter. O camisa 23 além de ser referência dentro das quadras, desempenha um papel fundamental na luta contra o racismo, servindo de inspiração a milhares de jovens. Em Maio, ele se tornou uma liderança fundamental para a paralisação dos jogos da NBA (principal liga de basquete dos EUA).
Outro episódio envolvendo racismo foi a morte da jovem Breonna Taylor (26). Também vítima de abusos policiais, Breonna foi assassinada por três policiais brancos que invadiram sua casa à paisana e sem nenhum mandado de prisão. Meses após o ocorrido, a história de Breonna foi usada como símbolo de calamidade pública e atletas como LeBron James se posicionaram em solidariedade à jovem:
“Minha filha, minha esposa, minha mãe e tantas outras mulheres pretas fazem parte da minha vida e eu penso que, se elas não estivessem aqui vivas, hoje ou amanhã, vítimas de tiroteios, eu não saberia o que fazer e certamente não conseguiria jamais perdoar a mim mesmo ou quem fez isso” – LeBron James.
Realidade em números
Apesar de inúmeros episódios de injúria racial ocorrerem diariamente, há quem não tenha ciência do quanto o racismo mata no Brasil. De acordo com dados do Atlas da Violência (edital 2020), os negros representam 75% das mortes causadas por homicídio no país. Outro levantamento aponta que, para cada 100 mil pessoas assassinadas, cerca de 37,8% são negras.
Além da extrema desigualdade social firmada como um dos principais fatores, a violência policial figura como sendo uma das principais responsáveis pelo genocídio racial. Estudos feitos pelo Mapa da Violência com parceria do Fórum Brasileiro de Segurança Pública revelam: nos últimos três anos (2017, 2018, 2019) cerca de 12.512 pessoas negras foram mortas pela polícia.
Recordar é viver
Em 1947, o jornalista Mário Filho (anos mais tarde homenageado por dar nome ao estádio do Maracanã) publicou um dos primeiros livros sociológicos a respeito do futebol: O Negro no Futebol Brasileiro. Nele, o autor expõe as singularidades do esporte de maior atuação no país e de que maneira, durante muito tempo, ele serviu como ferramenta de ascensão social, sobretudo pela população negra.
A obra também é uma denúncia ao racismo indisfarçável praticado no meio esportivo (um reflexo da sociedade da época). Diante de muitas análises, Mário Filho consegue concluir que, diante dos olhares de quem acompanha o espetáculo esportivo do futebol, um único objetivo era traçado como torcedor: vencer.
Por isso, a habilidade de jogadores fenomenais, como Leônidas da Silva (Diamante Negro), aos poucos foi conquistando uma quebra de pensamentos herdados do período escravocrata. Sua fama também foi essencial por trazer representatividade no meio que, originalmente, foi exclusivamente elitista.
Anos mais tarde, o Brasil serviu como um verdadeiro celeiro de craques e quiseram os deuses da bola, que o nosso território fosse a sede do Rei do Futebol (Pelé). Moacir Barbosa, Garrincha, Jairzinho, Manga, Dicá, Romário, Dida, Aranha, Júnior e tantos outros jogadores pretos que fizeram do esporte um profundo palco de inspiração, também foram alvos de racismo.
Qual aprendizado 2020 nos trouxe?
Tanto o esporte como os estereótipos sociais são indissociáveis. É impossível a ausência de manifestação política dentro de um cenário de manifestação cultural, sobretudo quando tratamos sobre a temática de direitos humanos fundamentais. Logo, 2020 foi o ano de reavaliar qual legado queremos para as gerações futuras.
Na corrida contra o racismo, o ano passado nos fez enxergar que a ignorância não pode ser subestimada e que, caso seja, pode se transformar em um adversário perverso e difícil a ser batido. Mesmo campeões, estrelas das mais diversas modalidades, acabam sofrendo com o racismo e por isso, mais do que nunca, devemos sempre lembrar que este mal existe e continua matando milhares de pessoas todos os dias.
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